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O Vale dos Mortos - Rodrigo de Oliveira
1° Trecho do livro O Vale dos Mortos, Capítulo 3 - Apocalipse
"O mundo está mudando. Os motivos não importam, mas haverá um número incontável de mortos. Bilhões irão perecer, não só na China, mas nos quatro cantos da Terra. Pais se voltarão contra seus filhos, amantes se matarão, famílias, vilas e até cidades inteiras serão dizimadas até a última alma.
Por toda a parte um verdadeiro oceano de lágrimas será derramado, e o sangue irá lavar as ruas e as casas.... Os poucos que sobreviverem, e eu te garanto que serão muito poucos, vão desejar até o fim dos seus dias terem morrido. Tudo que nós amamos um dia será completamente e irremediavelmente devastado. Para a humanidade não existe mais esperança, nem uma gota sequer."
2° Trecho do livro O Vale dos Mortos, Capítulo 3 - Apocalipse
"Imediatamente forças do exército e da polícia tentaram coordenar esforços para conter a crise incontrolável. Improvisaram barricadas nas ruas de Paris, num esforço desesperado de tentar conter a multidão de pessoas ensangüentadas, dilacera...das e cambaleantes que avançam trôpegos contra eles, enfurecidos e privados de toda a sanidade.
Por toda a cidade os tiros eram escutados e alguns poucos helicópteros levantaram vôo, tentando entrar em contato com seus centros de comando ou simplesmente fugindo para algum lugar seguro. Mas não havia mais nenhum lugar seguro no mundo, a única coisa que restava a fazer para os que sobreviveram ao colapso inicial era fugir dos zumbis e se esconder em algum lugar, pois eles formavam uma força incalculável, um poder que nenhum império na história havia conseguido reunir.
Aos humanos, só restava rezar."
3° Trecho do livro "O Vale dos Mortos" capítulo 5 - Confinados
"Quando percebeu, Estela estava na Avenida Cassiano Ricardo, procurando os filhos. Mas ela não conseguia encontrá-los, a avenida estava vazia, não tinha ninguém. Aonde quer que ela fosse, estava tudo deserto. Continuou correndo, descendo até o shopping. Depois subiu a Avenida São João e virou a direita numa das ruas do bairro. Depois de muito andar, chegou ao prédio onde moravam, esperava que os filhos tivessem voltado para casa.
Pegou o elevador e subiu até o apartamento, rezando que os filhos já estivessem em casa. Quando abriu a porta, a sala estava toda suja de sangue. Nos sofás, na mesa, no piano, nas cortinas e nas cadeiras. Até no teto havia sangue respingado. E uma grande trilha rubra levava até o seu quarto, como se alguém houvesse sido arrastado pelo chão.
Com o coração disparado ela caminhou lentamente até o quarto. Sacou o revólver e trazia-o apontado para frente. Havia rastros de sangue nas paredes também, como se alguém tivesse tentado se segurar, deixando as marcas dos dedos enquanto era puxado.
Quando chegou ao quarto, viu Ivan caído no chão, enquanto seus filhos rasgavam sua carne com os dentes. Suas crianças, seus anjinhos, mutilavam o próprio pai, lambendo o sangue das mãos e arrancando suas vísceras. Eles olharam para a mãe mas a ignoraram, continuando a comer.
Estela começou a chorar desesperada. Apontou a arma para os filhos, mas não conseguia atirar, não tinha coragem. De repente, Ivan falou com ela, sem se mover e nem abrir os olhos.
- Mate-os meu amor. Mate nossos filhos agora. – Falou Ivan, com doçura.
- Não posso! Não consigo! São meus filhos! – Gritou Estela, com a voz embargada pela dor.
- Não amor. Seus filhos estão mortos. Eu também estou morto. Todos estão mortos. Seus pais, suas irmãs, seus tios e tias, todos que você amou um dia. Estamos todos no inferno agora. E em breve você estará conosco também. – falou Ivan, calmamente.
- Não pode ser... eu não posso... eu não consigo... – falou Estela, caindo de joelhos no chão e largando a arma.
- Mate-nos sua vadia! – gritou Ivan, levantando-se furioso com olhos brancos e vazios, enquanto seus filhos se viravam contra própria mãe, raivosos.
Estela acordou do pesadelo aos gritos."
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